Kasato Maru, o navio da esperança

 

O navio da esperança. Assim pode ser visto o Kasato Maru, que atracou em Santos em 18 de junho de 1908, há 99 anos, com os primeiros 781 imigrantes japoneses, de 165 famílias. Ao longo dos anos e décadas seguintes à escala pioneira do Kasato Maru, numerosas embarcações do Japão trouxeram cerca de 260 mil imigrantes. Hoje a comunidade de japoneses e descendentes (já na quinta geração) soma aproximadamente 1 milhão 200 mil. O Kasato Maru foi o mais marcante por ser o primeiro, mas outros transatlânticos também escreveram a sua história nas páginas do fenômeno da imigração.

Carlos Botelho, secretário da Agricultura do Estado de São Paulo, e Ryu Misuno, diretor da Companhia Japonesa de Imigração Kokoku, assinaram em 6 de novembro de 1907 o contrato que permitiu a vinda do Kasato Maru ao Brasil, mais especificamente a Santos, onde atracou no cais do Armazém 14, em 18 de junho de 1908.

Os imigrantes do Kasato Maru seguiram no mesmo dia para São Paulo, de onde foram encaminhados para as fazendas de café da Alta Sorocabana.

Épocas críticas para a economia de um país são fundamentais para determinar o fenômeno da emigração, a saída de cidadãos de uma nação, à procura de melhores oportunidades em terras estrangeiras e estranhas.

Com os japoneses não foi diferente, como conta Isidoro Yamanaka em uma página na Internet, http://www.visualweb.com.br/nihonjin/.

O imperador japonês Meiji, após romper séculos de isolamento do país com o Ocidente, detonou profundas mudanças administrativas, a partir de 1886.

Uma das transformações foi implementar uma reforma agrária, que deu direito aos camponeses de acesso à propriedade de terras, reformulando a legislação do imposto territorial rural. Outras medidas adotadas provocaram uma situação crítica para a economia interna do Japão.

A emigração era proibida pelo governo, que teve de rever a posição e aceita-la como necessária para reduzir as tensões sociais, agravadas pelo aumento da população.

No Brasil, o país onde o sol se põe, a situação também não era das melhores, no final do século retrasado e início do século passado. A Lei Áurea, de 13 de maio de 1888, que libertou os escravos, provocou séria crise agrícola.

Tanto que, em 5 de outubro de 1892, o presidente da florescente República, Floriano Peixoto, sancionou a Lei nº 97, que surgiu como decorrência das pressões de fazendeiros de café, que precisavam de mão-de-obra. A lei era o ponto de partida para permitir a vinda de imigrantes asiáticos.

Como conseqüência, em 5 de novembro de 1895 foi assinado o Tratado de Amizade, Comércio e Navegação entre o Brasil e o Japão, que abria as portas das terras brasileiras aos japoneses.

Superados numerosos obstáculos políticos para a entrada dos primeiros imigrantes, ocorreu o início de uma nova era entre brasileiros e japoneses, com a vinda do Kasato Maru.

O despachante aduaneiro Laire José Giraud, de Santos, pesquisador de assuntos marítimos, apurou que, no dia 28 de junho de 1910, chegou à Cidade a segunda remessa de imigrantes japoneses: 906 pessoas pelo vapor Royojun Maru. Elas seguiram para as fazendas da Alta Mogiana.

O Kasato Maru partiu para o Brasil uma segunda vez, em dezembro de 1916, aportando em 1917, mas como cargueiro, a serviço da Osaka Sosen Kaisha (OSK) Line. Quando ele retornou, veio para fazer pesquisa de frete, com o objetivo de se instalar uma linha marítima comercial entre os dois países.

Anos mais tarde, em1920, aOSK Line começou a receber subsídios do governo japonês para operar na linha para a América do Sul. Na época, a armadora tinha 11 navios mistos (de cargas e de passageiros), que continuaram no tráfego até 1935, quando a companhia adquiriu novas embarcações.

A frota da OSK Line contou com navios como Buenos Aires Maru, Montevideo Maru, Santos Maru e Manila Maru, entre outros.

Navio-hospital russo – antes de navegar sob bandeira japonesa, o Kasato Maru era um navio-hospital russo, aprisionadoem Port Arthur, durante a guerra entre os Japão e a Rússia, que terminou em 1905, segundo o pesquisador Laire José Girard, que lembra que a Esquadra Imperial do Japão triunfou no conflito, sob o comando do almirante Tojo.

Outro navio que marcou uma nova etapa entre os imigrantes japoneses foi o holandês Ruys, que restabeleceu o fluxo de entrada de cidadãos japoneses a Santos, que estava suspenso desde o início da Segunda Guerra Mundial.

O Ruys trouxe 112 pessoas, de 22 famílias, que se estabeleceram na Colônia Agrícola Federal de Dourados,em Mato Grosso, conforme noticiou A Tribuna na edição de 9 de julho de 1953.

Após a Segunda Guerra Mundial, surgiram em 1954 dois navios para passageiros, imigrantes e cargas, o Brazil Maru e o Argentina Maru, que partiam de Kobe, com escalas no Rio de Janeiro, Santos e Buenos Aires.

Na passagem do 80º aniversário da imigração japonesa, o cargueiro Llouyd Gênova, da hoje extinta Companhia de Navegação Lloyd Brasileiro, teve o nome no casco alterado para Kasato Maru, com o objetivo de encenar a chegada dos primeiros 781 japoneses ao Brasil.

E, pouco antes do aniversário dos 90 anos de imigração japonesa, o transatlântico Nippon Maru, da Mitsui Osaka Sosen Kaisha (fusão da Mitsui com a OSK), foi a Santos para comemorar a data. Ele escalou no dia 12 de junho de 1998 no cais do Armazém 29.

O Nippon Maru não trouxe imigrantes, mas sim 400 passageiros japoneses, que faziam uma viagem de volta ao mundo iniciada há dois meses e previsão de terminar na segunda quinzena de julho de 1998.

Autor: Armando Akio, Jornal A Tribuna, colaboração de Laire José Girard.

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